Vadiagem
Naquela hora
já noite
quando o
vento nos traz mistérios a desvendar
musseque em
fora fui passear as loucuras
com os
rapazes das ilhas:
Uma viola a
tocar
o Chico a
cantar
(que bem que
canta o Chico!)
e a noite
quebrada na luz das nossas vozes.
Vieram
também, vieram também
cheirando a
flor de mato
- cheiro grávido
de terra fértil -
as moças das
ilhas
sangue moço
aquecendo
a Bebiana, a
Teresa, a Carminda, a Maria.
Uma viola a
tocar
o Chico a
cantar
a vida
aquecida com o sol esquecido
a noite é
caminho
caminho,
caminho, tudo caminho serenamente negro
sangue
fervendo
cheiro bom a
flor de mato
a Maria a
dançar
(que bem que
dança remexendo as ancas!)
E eu a
querer, a querer a Maria
e ela sem se
dar
Vozes dolentes
no ar
a esconder
os punhos cerrados
alegria nas
cordas da viola
alegria nas
cordas da garganta
e os anseios
libertados
das cordas
de nos amordaçar
Lua morna a
cantar com a gente
as estrelas
se namorando sem romantismo
na praia da
Boavista
o mar
ronronante a nos incitar
Todos
cantando certezas
a Maria a
bailar se aproximando
sangue a
pulsar
sangue a
pulsar
mocidade
correndo
a vida
peito com
peito
beijos e
beijos
as vozes
cada vez mais bêbadas de liberdade
a Maria se
chegando
a Maria se
entregando
Uma viola a
tocar
e a noite
quebrada na luz do nosso amor...
(poeta
angolano nascido faz hoje 90 anos)
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