O bolero do
coronel
Eu que me
comovo
Por tudo e
por nada
Deixei-te
parada
Na berma da
estrada
Usei o teu
corpo
Paguei o teu
preço
Esqueci o
teu nome
Limpei-me
com o lenço
Olhei-te a
cintura
De pé no
alcatrão
Levantei-te
as saias
Deitei-te no
banco
Num bosque
de faias
De mala na
mão
Nem sequer
falaste
Nem sequer
beijaste
Nem sequer
gemeste,
Mordeste,
abraçaste
Quinhentos
escudos
Foi o que
disseste
Tinhas
quinze anos
Dezasseis,
dezassete
Cheiravas a
mato
À sopa dos
pobres
A infância
sem quarto
A suor, a
chiclete
Saíste do
carro
Alisando a
blusa
Espiei da
janela
Rosto de
aguarela
Coxa em
semifusa
Soltei o
travão
Voltei para
casa
De chaves na
mão
Sobrancelha
em asa
Disse: fiz
serão
Ao filho e à
mulher
Repeti a
fruta
Acabei a
ceia
Larguei o
talher
Estendi-me
na cama
De ouvido à
escuta
E perna
cruzada
Que de olhos
em chama
Só tinha na
ideia
Teu corpo
parado
Na berma da
estrada
Eu que me
comovo
Por tudo e
por nada
(António
Lobo Antunes faz hoje 72 anos)
Belo poema musicado e cantado por Vitorino.
ResponderEliminarAbraço