A flor da
solidão
Vivemos
convivemos resistimos
cruzámo-nos
nas ruas sob as árvores
fizemos
porventura algum ruído
traçámos
pelo ar tímidos gestos
e no entanto
por que palavras dizer
que nosso
era um coração solitário silencioso
silencioso
profundamente silencioso
e afinal o
nosso olhar olhava
como os
olhos que olham nas florestas
No centro da
cidade tumultuosa
no ângulo
visível das múltiplas arestas
a flor da
solidão crescia dia a dia mais viçosa
Nós tínhamos
um nome para isto
mas o tempo
dos homens impiedoso
matou-nos
quem morria até aqui
E neste
coração ambicioso
sozinho como
um homem morre cristo
Que nome dar
agora ao vazio
que mana
irresistível como um rio?
Ele nasce
engrossa e vai desaguar
e entre
tantos gestos é um mar
Vivemos
convivemos resistimos
sem bem
saber que em tudo um pouco nós morremos
(poeta
riomaiorense falecido faz hoje 36 anos)
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