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segunda-feira, julho 14, 2014

Ode ao inominado

Em mim,
ó inominado, ó infigurado,
ó transfigurado,
em mim subsistes.

Sémen primeiro e perene,
aparição absurda no vazio,
nódulo subtil e diáfano,
continente microcósmico de todo o cósmico,
ímpeto puro, movimento puro,
espectacular súbito actor original,
haver ser no não-ser,
espaço conquistado ao nada,
tempo inventado,
átomo, molécula, ínfima partícula,
verbo indizível,
minúsculo, majestoso,
pequena gigantesca energia,
forma matéria achada,
em mim subsistes,
existes,
persistes,
vives crescendo até à altura do infinito,
teu-meu fito
neste atroz, maravilhoso porto
em que me debato.

Noite alta,
o sonho explode, a angústia, esperança,
saudade,
estranheza de entre-acordar e entre-viver,
emersão em véus, objectos, emoções que se dissipam
num quotidiano mal recuperado.

Noite alta, ó inominado,
sou em ti o enigma de aparecer, de aparecer-me
e ser.


(António Quadros nasceu faz hoje 91 anos)

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