Ode ao inominado
Em mim,
ó inominado,
ó infigurado,
ó
transfigurado,
em mim
subsistes.
Sémen
primeiro e perene,
aparição
absurda no vazio,
nódulo
subtil e diáfano,
continente
microcósmico de todo o cósmico,
ímpeto puro,
movimento puro,
espectacular
súbito actor original,
haver ser no
não-ser,
espaço
conquistado ao nada,
tempo
inventado,
átomo,
molécula, ínfima partícula,
verbo
indizível,
minúsculo,
majestoso,
pequena
gigantesca energia,
forma
matéria achada,
em mim
subsistes,
existes,
persistes,
vives
crescendo até à altura do infinito,
teu-meu fito
neste atroz,
maravilhoso porto
em que me
debato.
Noite alta,
o sonho
explode, a angústia, esperança,
saudade,
estranheza
de entre-acordar e entre-viver,
emersão em
véus, objectos, emoções que se dissipam
num
quotidiano mal recuperado.
Noite alta,
ó inominado,
sou em ti o
enigma de aparecer, de aparecer-me
e ser.
(António
Quadros nasceu faz hoje 91 anos)
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