Madrugada
Ah! Este
poema das madrugadas,
que há tanto
tempo enrodilhado
num sem-fim
de estados de alma
me obcecava,
tirânico,
sem se
deixar fixar! ...
Madrugada...
e esta solidão crescendo,
esta
nostalgia maior, e maior, e maior,
de não se
sabe o quê
- nunca se
sabe o quê...
que haverá
nestas horas sozinhas e geladas,
para assim
trazer à tona as indefinidas mágoas,
as saudades
e as ânsias sem motivo
- de que não
sabemos o motivo?...
Vieram as
saudades do tempo de menino
- ou dum
paraíso lá não sei onde?
Ah! que
fantasmas pesaram sobre os ombros,
que sombras
desceram sobre os olhos,
que tristeza
maior fez maior o silêncio?
A que vem
esse calor distante e absorto,
esse calar,
esses modos distraídos?
Meu pobre
sonhador! a esta hora
porventura
se desvenda a Suprema Inutilidade?
e a
definitiva ilusão de tantos gestos?
Interroga,
interroga...
vai
sonhando,
sem que
saibas sequer o caminho que segues
vai,
distraído e pensativo,
alheio de
hoje,
vivendo já o
derradeiro segundo...
Que a
madrugada tem o pungir das agonias,
mas alheio,
como o fim dum pesadelo...
(poeta
portuense nascido faz hoje 106 anos)
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