Orfeu
rebelde
Orfeu
rebelde, canto como sou:
Canto como
um possesso
Que na casca
do tempo, a canivete,
Gravasse a
fúria de cada momento;
Canto, a ver
se o meu canto compromete
A eternidade
do meu sofrimento.
Outros,
felizes, sejam os rouxinóis...
Eu ergo a
voz assim, num desafio:
Que o céu e
a terra, pedras conjugadas
Do moinho
cruel que me tritura,
Saibam que
há gritos como há nortadas,
Violências
famintas de ternura.
Bicho
instintivo que adivinha a morte
No corpo dum
poeta que a recusa,
Canto como
quem usa
Os versos em
legítima defesa.
Canto, sem
perguntar à Musa
Se o canto é
de terror ou de beleza.
(Mário de
Sá-Carneiro nasceu a 19 de Maio de 1890)
Quando a Musa é a rebeldia.
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