REGRESSO
O Poeta
acordou de mãos vazias sobre o peito,
sem névoas
de fuga no olhar espantado.
Lançaram-lhe
urtigas nos linhos do leito
e em todos
os frutos sabor a pecado.
Fechar-se de
novo no armário, no escuro?
A esperar
mãos boas e lenços macios?
Quem traga
nos lábios violados segredos,
varrendo os
espectros de angústias e medos
nos olhos
sombrios?
Mas no
armário havia um cheiro de trevas,
um cheiro de
infância,
um cheiro de
choro chorado baixinho,
de sonho e
silêncio,
de bruma e
distância.
No drama e
na farsa, o Poeta exibiu-se.
(Importa-lhe,
agora, quem o vaia ou exalta?)
No espelho
manchado de sol e poeira,
assim que
apagaram a luz da ribalta,
o Poeta
busca a face verdadeira.
Deixem-no
sozinho, com olhos sombrios,
sofrer esse
instante sem sonho e sem venda,
não venham
mãos boas nem lenços macios:
Que ninguém
o entenda! Que ninguém o entenda!
(escritora
vianense nascida faz hoje 95 anos)
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