Poema
quotidiano
É tão
depressa noite neste bairro
Nenhum outro
porém senhor administrador
goza de tão
eficiente serviço de sol
Ainda não há
muito ele parecia
domiciliado
e residente ao fim da rua
O senhor não
calcula todo o dia
que festa de
luz proporcionou a todos
Nunca vi e
já tenho os meus anos
lavar a
gente as mãos no sol como hoje
Donas de
casa vieram encher de sol
cântaros
alguidares e mais vasos domésticos
Nunca em
tantos pés
assim
humildemente brilhou
Orientou
diz-se até os olhos das crianças
para a
escola e pôs reflexos novos
nas míseras
vidraças lá do fundo
Há quem diga
que o sol foi longe demais
Algum dos
pobres desta freguesia
apanhou-o na
faca misturou-o no pão
Chegaram a
tratá-lo por vizinho
Por este
andar... Foi uma autêntica loucura
O astro-rei
tornado acessível a todos
ele que
ninguém habitualmente saudava
Sempre o
mesmo indiferente
espectáculo
de luz sobre os nossos cuidados
Íamos
vínhamos entrávamos não víamos
aquela
persistência rubra. Ousaria
alguém
deixar um só daqueles raios
atravessar-lhe
a vida iluminar-lhe as penas?
Mas hoje o
sol
morreu como
qualquer de nós
Ficou tão
triste a gente destes sítios
Nunca foi
tão depressa noite neste bairro
(Ruy Belo
faria hoje 81 anos)
Para reler
ResponderEliminarAbraço
Um poema imenso e luminoso.
ResponderEliminarAbraço