Uma Conversa
Solidão uma
conversa! Eu estou é no meio do mundo.
Do que serve
trancar a porta?
Do que serve
botar as mãos nos ouvidos?
Do que serve
fazer o papel de surdo que não quer ouvir?
Gritos de
homens da rua entram, apesar de tudo,
Vozes
angustiadas de mulheres perdidas entram, apesar de tudo.
Uivos de
seviciados entram, apesar de tudo.
Solidão uma
conversa! eu estou é no meio do mundo.
Os eunucos
estão fazendo flores nas torres de marfim,
Mas eu estou
é no meio do mundo.
O rumor das
ruas confunde-se ao ritmo do teclado da máquina;
Metralhadoras
escrevem poemas no teclado da máquina,
Cavalos
estão batendo as patas no teclado da máquina.
Gente
lutando,
Suando,
Amando, nas
cinco partes do mundo.
Quem pode
escrever poemas na solidão,
Se portas
trancadas nada valem
Se mãos nos
ouvidos nada valem,
Se fazer o
papel do surdo que não quer ouvir nada vele,
Se os olhos
dos moribundos ficam, do alto, iluminando as páginas,
Se mãos
alvas vêm ascender o cigarro, devagarinho,
Se o rumor
das ruas vem fazer coro ao ritmo do teclado da máquina?
Solidão uma
conversa! Eu estou é no meio do mundo...
(poeta
baiano nascido faz hoje 101 anos)
Sem comentários:
Enviar um comentário