Casa
destelhada
A minha vida
é uma casa destelhada
por um vento
fortíssimo de chuva.
(As goteiras
de todas as misérias
estão
caindo, com lentidão perversa,
na terra
triste do meu coração.)
A minha
alma, a inquilina, está pensando
que é
preciso mudar-se, que é preciso
ir para uma
casa bem coberta...
(As goteiras
estão caindo
lentamente,
perversamente
na terra
molhada do meu coração.)
Mas a minha
alma está pensando
em adiar,
quanto mais, a mudança precisa.
Ela quer
muito bem à velha casa
em que já
foi feliz...
E
encolhe-se, toda transida de frio,
fugindo às
goteiras, que caem lentamente
na terra
esverdeada do meu coração!
Oh! a
felicidade estranha
de pensar
que a casa agüente mais um ano
nas paredes
oscilantes!
Oh! a
felicidade voluptuosa
de adiar a
mudança, demorá-la,
ouvindo a
música das goteiras tristes,
que caem
lentamente, perversamente,
na terra
gelada do meu coração!
(poeta
paulista nascido faz hoje 116 anos)
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