Requiem por
um cão
Cão que
matinalmente farejavas a calçada
as ervas os
calhaus os seixos e os paralelepípedos
os restos de
comida os restos de manhã
a chuva
antes caída e convertida numa como que auréola da terra
cão que isso
farejavas cão que nada disso já farejas
Foi um
segundo súbito e ficaste ensanduichado
esborrachado
comprimido e reduzido
debaixo do
rodado imperturbável do pesado camião
Que tinhas
que não tens diz-mo ou ladra-mo
ou utiliza
então qualquer moderno meio de comunicação
diz-me lá
cão que faísca fugiu do teu olhar
que falta
nesse corpo afinal o mesmo corpo
só que
embalado ou liofilizado?
Eras vivo e
morreste nada mais teus donos
se é que os
tinhas sempre que de ti falavam
falavam no
presente falam no passado agora
Mudou alguma
coisa de um momento para o outro
coisa sem
importância de maior para quem passa
indiferente
até ao halo da manhã de pensamento posto
em coisas
práticas em coisas próximas
Cão que
morreste tão caninamente
cão que morreste
e me fazes pensar parar até
que o
polícia me diz que siga em frente
Que se
passou então? um simples cão que era e já não é
(poeta riomaiorense
falecido faz hoje 35 anos)
Ruy Belo era um pouco obcecado pela morte, segundo ouvi a um crítico...
ResponderEliminarAbraço-o
Ruy Belo, um Poeta maior.
ResponderEliminarabraço
eu tenho um labrador
ResponderEliminaradoro-o
Bjinhos
Paula
Um poeta do qual conheço muito pouco.
ResponderEliminarbeijinho e uma flor