Vestígios
noutros
tempos
quando
acreditávamos na existência da lua
foi-nos
possível escrever poemas e
envenenávamo-nos
boca a boca com o vidro moído
pelas
salivas proibidas - noutros tempos
os dias
corriam com a água e limpavam
os líquenes
das imundas máscaras
hoje
nenhuma
palavra pode ser escrita
nenhuma
sílaba permanece na aridez das pedras
ou se
expande pelo corpo estendido
no quarto do
zinabre e do álcool - pernoita-se
onde se pode
- num vocabulário reduzido e
obsessivo -
até que o relâmpago fulmine a língua
e nada mais
se consiga ouvir
apesar de
tudo
continuamos
a repetir os gestos e a beber
a serenidade
da seiva - vamos pela febre
dos cedros
acima - até que tocamos o místico
arbusto
estelar
e
o mistério
da luz fustiga-nos os olhos
numa euforia
torrencial
(Al Berto
faleceu faz hoje 16 anos)
Al Berto. Mais um grande poeta que nos deixou cedo.
ResponderEliminarAbraço