Poema de
destroços
Lembro-me de
tudo:
Um gesto a
abrir,
rosas branca
na haste,
o milagre do
pão,
a ternura
que deixaste
como um rio
desliza,
num silêncio
de gumes.
Os adeuses
digo,
único
passageiro no navio,
levo o
saibro das lágrimas,
e vou
sozinho.
A guitarra
da chuva persiste.
Se eu tinha
coração? De ouro...
Quase ia
dizendo puro,
uma árvore à
beira da vida.
Consumiu-o
depressa a labareda
neste
desolado cais.
No cais da
saudade, morre um sonho mais,
a esfumada
paisagem, porto solitário,
depois o
imenso, profundo oceano,
enquanto o
céu ainda é azul.
Comerei o
pão que deixaste
para a minha
fome,
uma esmola
para o pobre marinheiro.
Haverá um
sinal?
Apenas um
sinal no céu:
Os deuses
que tivemos devorámos.
Coração
apagado,
uma açucena na
estrumeira.
Pior é
morrer
culpado de
alguma culpa inocente.
E a noite. A
noite, por fim, indiferente.
(escritor
açoriano que hoje faz 69 anos)
Sem comentários:
Enviar um comentário