O dom da vida
O dom da vida se imodera e precipita
com a ânsia tanta de se rever ao espelho
que denuncia o velho que me vou tornando.
Ocupo ainda o espaço que me foi dado,
descoheço os que vão chegando e já não
vejo os que ao meu lado me abandonaram.
Sou um estranho num mundo desordenado,
uma ave atrasada de seu bando, mas vivo
sem préstimo e sem comando, sem o fado
de súbito interrompido, menor ou corrido.
Ido passado que me agasta e resta, ida
aresta que me ilumina, lâmina e níquel.
Venho daquele tropel que me poupou a hora
da queda, trago a seda esvoaçante e nunca
rasgada em parte alguma, intacta figura
solitária. A lendária altura não me chamou,
o amor me doou.
(Dórdio Leal Guimarães nasceu faz hoje 75 anos)
Um poeta que devia ser melhor conhecido.
ResponderEliminarBelo poema.
Abraço