Ao Bater da Chuva  
A porta
fechada é uma obsessão. 
As vozes
caladas em torno de nós, 
as pausas
alongadas em silêncios de uma angústia 
nova, 
são a
descontinuidade do tempo interrompido 
dentro da
casa que arrombaram ontem, 
no coração
da aldeia do Mazozo. 
A chuva cai
em bátegas doces, a chuva bate o capim
molhado, 
e soa... 
A humanidade
é fria.   
As mulheres
já choraram tudo 
- A Mãe
Gonga comandou o coro. 
Esvaem-se
agora em surdina muda, 
que agudiza
o bater da chuva. 
Os homens
dizem de quando em quando 
um nome
obstinado. 
Chamava-se
Infeliz 
aquele rapaz
que levaram
ontem 
do coração
da aldeia.   
A chuva
matraqueia ainda e sempre 
na porta
fechada como uma obsessão. 
Como ela nos
lembra o som odiado 
que dia após
dia 
nos
sobressalta! 
Como ela
recorda o som da metralha, 
que dia após
dia 
desce o
morro da Calomboloca 
e bate
naquela porta fechada, 
obcecada de
protecção!   
A gente
conhece o som da metralha 
quando ela
vem no fim do dia. 
Quando ela
vem, silencia a aldeia, 
então, em
sobressalto, o povo diz: 
- Foram
fuzilados...   
E ninguém
sabe do Infeliz, 
aquele rapaz
que levaram ontem...
(escritor angolano,
falecido faz hoje 7 anos)
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