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segunda-feira, janeiro 28, 2013

Taça com asas

Uma taça com asas: quem a viu
Antes de mim? Vi-a ontem. Subia
Com lenta majestade, como quem verte
Óleo sagrado: em suas doces bordas
Meus delicados lábios apertava:
Nem uma gota sequer, nem uma gota
Do bálsamo perdi que houve em teu beijo!

Tua cabeça de negra cabeleira
-Lembras-te? - com minha mão pedia,
Pra que de mim teus lábios generosos
Não se afastassem. - Serena como o beijo
Que a ti me transfundia era a suave
Atmosfera em redor: a vida inteira

Senti que a mim, abraçando-te, abraçava!
Perdi de vista o mundo, e seus ruídos,
Sua invejosa e bárbara batalha!
Uma taça subia pelo espaço
E eu, em braços não vistos reclinado,
Atrás dela, nas doces bordas preso:
Pelo espaço azul eu ascendia!

Oh amor, oh imenso, oh artista perfeito!:
Em roda ou em carril funde o ferreiro o ferro:
Uma flor ou mulher ou águia ou anjo
Em ouro ou prata o ourives cinzela:
Apenas tu, só tu, sabes o modo
De reduzir o Universo a um beijo!


(José Martí nasceu em Havana a 28 de Janeiro de 1853)

Tradução de José Bento

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