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sexta-feira, outubro 26, 2012

poeta namora a morte

Vi a Morte. É simpática.
A fisionomia até não dá desgosto.
Como não envelhece, é uma arisca menina,
bela, mesmo com o véu que ainda usa no rosto.

Mal me viu, apontou para a estepe gelada
em que me apareceu:
- Deita aqui ao meu lado...
Faz frio. Porém deita e eu te aquecerei breve;
Eu te farei ser luz
luz perpétua entre a neve! -

(Mas gelava demais e meu corpo tremeu).

Ela levou-me então para o píncaro esguio
no mais alto rochedo:
- Salta! Salta sem medo em pleno azul, amigo!
Eu te farei brotar duas assas diáfanas;
serás límpido e leve
como as estrelas. -

(Mas era tão noturno o silêncio vazio
que minha ânsia hesitou e enfim retrocedeu).

Mostrou-me finalmente a lagoa do sono.
(É a lagoa remota
e onde a luz se escondeu...)
- Mergulha nesta sombra;
e encontrarás o cofre
e eu te darei a chave
do cofre de ouro das grotas,
que dorme ao fundo das ondas. -

(Mas a água sem tremor,
brônzea,
me estarreceu.)

E respondi-lhe doce e tranqüilo:
- Não, Morte.
Não.
A Vida afinal é tão jovem e tão forte
que, por sadismo até, me atraiu, me prendeu...-

Disse então, já sem véu: - Mas sou eu mesma a Vida! -
e encarei-a sorrindo... e ela correspondeu.


(poeta brasileiro nascido a 26 de Outubro de 1894)

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