Disciplina
O trabalho
começa ao romper do dia. Mas nós começamos,
um pouco
antes do romper do dia, a reconhecer-nos
nas pessoas
que passam na rua. Ao descobrir os raros
transeuntes,
cada um sabe que está sozinho
e que tem
sono - perdido no seu próprio sonho,
cada um sabe
no entanto que com o dia abrirá os olhos.
Quando a
manhã chega, encontra-nos estupefactos
a fixar o
trabalho que agora começa.
Mas já não
estamos sozinhos e ninguém mais tem sono
e pensamos com
calma os pensamentos do dia
até que o
sorriso vem. Com o regresso do sol
estamos
todos convencidos. Mas às vezes um pensamento
menos claro -
um esgar - surpreende-nos inesperadamente
e voltamos a
olhar para tudo como antes do amanhecer.
A cidade clara
assiste aos trabalhos e aos esgares.
Nada pode
turvar a manhã. Tudo pode
acontecer e
basta levantar a cabeça
do trabalho
e olhar. Rapazes que se escaparam
e que ainda
não fazem nada passam na rua
e alguns até
correm. As árvores das avenidas
dão muita
sombra e só falta a erva
entre as
casas que assistem imóveis. São tantos
os que à
beira-rio se despem ao sol.
A cidade
permite-nos levantar a cabeça
para pensar
estas coisas, e sabe bem que em seguida a baixamos.
(poeta
italiano falecido faz hoje 62 anos)
Tradução de Carlos Leite
Sem comentários:
Enviar um comentário