Encontro
Que vens
contar-me
se não sei
ouvir senão o silêncio?
Estou parado
no mundo.
Só sei
escutar de longe
antigamente
ou lá para o futuro.
É bem certo
que existo:
chegou-me a
vez de escutar.
Que queres
que te diga
se não sei
nada e desaprendo?
A minha paz
é ignorar.
Aprendo a
não saber:
que a
ciência aprenda comigo
já que não
soube ensinar.
O meu
alimento é o silêncio do mundo
que fica no
alto das montanhas
e não desce
à cidade
e sobe às
nuvens que andam à procura de forma
antes de
desaparecer.
Para que
queres que te apareça
se me agrada
não ter horas a toda a hora?
A preguiça
do céu entrou comigo
e prescindo
da realidade como ela prescinde de mim.
Para que me
lastimas
se este é o
meu auge?!
Eu tive a
dita de me terem roubado tudo
menos a
minha torre de marfim.
Jamais os
invasores levaram consigo as nossas
torres de
marfim.
Levaram-me o
orgulho todo
deixaram-me
a memória envenenada
e intacta a
torre de marfim.
Só não sei
que faça da porta da torre
que dá para
donde vim.
(Almada
Negreiros faleceu faz hoje 42 anos)
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