Diante do
mar
Oh, mar,
enorme mar, coração feroz
de ritmo
desigual, coração mau,
eu sou mais
tenra que esse pobre pau
que,
prisioneiro, apodrece nas tuas vagas.
Oh, mar,
dá-me a tua cólera tremenda,
eu passei a
vida a perdoar,
porque
entendia, mar, eu me fui dando:
“Piedade,
piedade para o que mais ofenda”.
Vulgaridade,
vulgaridade que me acossa.
Ah,
compraram-me a cidade e o homem.
Faz-me ter a
tua cólera sem nome:
já me cansa
esta missão de rosa.
Vês o
vulgar? Esse vulgar faz-me pena,
falta-me o
ar e onde falta fico.
Quem me dera
não compreender, mas não posso:
é a
vulgaridade que me envenena.
Empobreci
porque entender aflige,
empobreci
porque entender sufoca,
abençoada
seja a força da rocha!
Eu tenho o
coração como a espuma.
Mar, eu
sonhava ser como tu és,
além nas
tardes em que a minha vida
sob as horas
cálidas se abria…
Ah, eu
sonhava ser como tu és.
Olha para
mim, aqui, pequena, miserável,
com toda a
dor que me vence, com o sonho todos;
mar, dá-me,
dá-me o inefável empenho
de tornar-me
soberba, inacessível.
Dá-me o teu
sal, o teu iodo, a tua ferocidade,
Ar do mar!…
Oh, tempestade! Oh, enfado!
Pobre de
mim, sou um recife
E morro,
mar, sucumbo na minha pobreza.
E a minha
alma é como o mar, é isso,
ah, a cidade
apodrece-a e engana-a;
pequena vida
que dor provoca,
quem me dera
libertar-me do seu peso!
Que voe o
meu empenho, que voe a minha esperança…
A minha vida
deve ter sido horrível,
deve ter
sido uma artéria incontível
e é apenas
cicatriz que sempre dói.
(poetisa
argentina nascida faz hoje 120 anos)
(Tradução de José Agostinho Baptista)
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