Poema à boca fechada
Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
(José Saramago faria hoje 89 anos)
Linda homenagem meu amigo.
ResponderEliminarBeijo
Tive o imenso gosto de o conhecer pessoalmente.E de falar com ele mais do que uma vez.
ResponderEliminarEra uma pessoa afável, ao contrário do que dizem. E se ele era arrogante, o que é Lobo Antunes?!
Saudações
... e disse tudo (terá dito?) como raros espíritos souberam dizer.
ResponderEliminarassocio-me com amizade à tua bela homenagem.
abraços
Um texto de eleição...meu caro. Maravilha. Grata. Bj
ResponderEliminarparabens
ResponderEliminare linda homenagem
Bjinhos
Paula
Fotografei Saramago e Pilar por diversas vezes, inclusive algumas até posaram para mim. Guardo essas fotos com todo o carinho pois Saramago só há um!
ResponderEliminar