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segunda-feira, novembro 07, 2011

Guerra

Tanto é o sangue
que os rios desistem de seu ritmo,
e o oceano delira
e rejeita as espumas vermelhas.

Tanto é o sangue
que até a lua se levanta horrível,
e erra nos lugares serenos,
sonâmbula de auréolas rubras,
com o fogo do inferno em suas madeixas.

Tanta é a morte
que nem os rostos se conhecem, lado a lado,
e os pedaços de corpo estão por ali como tábuas sem uso.

Oh, os dedos com alianças perdidos na lama...
Os olhos que já não pestanejam com a poeira...
As bocas de recados perdidos...
O coração dado aos vermes, dentro dos densos uniformes...

Tanta é a morte
que só as almas formariam colunas,
as almas desprendidas... - e alcançariam as estrelas.

E as máquinas de entranhas abertas,
e os cadáveres ainda armados,
e a terra com suas flores ardendo,
e os rios espavoridos como tigres, com suas máculas,
e este mar desvairado de incêndios e náufragos,
e a lua alucinada de seu testemunho,
e nós e vós, imunes,
chorando, apenas, sobre fotografias,
- tudo é um natural armar e desarmar de andaimes
entre tempos vagarosos,
sonhando arquiteturas.


(poetisa carioca nascida a 7 de Novembro de 1901)

5 comentários:

  1. lino
    Grande Senhora... Gosto.
    Beijinho

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  2. Um poema que é um "retrato"...

    Abraço

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  3. Bom poema de uma autora que só conheço por leituras assim.

    Bons sonhos.

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  4. E será que caminhamos para outra guerra?

    Pelo menos de atirar pedras a uns poucos ladrões!

    Um abraço

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  5. Cecilia Meireles foi uma das grandes poetisas brasilriras.
    Obrigado, Lino.

    Abraço,
    Jorge

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