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segunda-feira, outubro 26, 2009

Dinossauro Excelentíssimo

No gabinete, entre o discurso e a caça às palavras é que o Dinossauro cumpria o seu reinado. Escrevia e vigiava, à sombra do retrato oficial que tinha em cima da secretária e sempre guiado pela sua voz dentro dele. Mas se abrisse a porta podia continuar a ouvir-se, desdobrado pelos altifalantes que havia nos corredores a na sala ao lado onde estava a estátua que era ele mesmo em corpo histórico.

Havia um frio de eternidade naquela teia de circuitos, uma aragem de zumbidos metálicos, e o Dinossauro, atrás da secretária dourada, sua varanda, suas patas leoninas, parecia um sonâmbulo pousado num sonho desértico. Não dormia há séculos, dizia-se dele; outros garantiam: repousa vivo à margem da morte, que é a linha de onde se vê mais claro. De quando em quando as nervuras da teia estremeciam, suspendendo uma gota metálica: TINHA CAÍDO UMA PALAVRA.

José Cardoso Pires, excerto de Dinossauro Excelentíssimo.

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