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quarta-feira, setembro 16, 2009

O último poema Somos cinco mil nesta pequena parte da cidade. Somos cinco mil, quantos seremos no total, nas cidades e em todo o país? Só aqui dez mil mãos que semeiam e fazem andar as fábricas. Quanta humanidade, com fome, frio, pânico, dor pressão moral, terror e loucura! Seis de nós se perderam no espaço das estrelas. Um morto, um espancado como jamais imaginei que se pudesse espancar um ser humano. Os outros quatro quiseram livrar-se de todos os temores um saltando no vazio, outro batendo a cabeça contra a parede, mas todos com o olhar fixo da morte. Que espanto causa o rosto do fascismo! Levam a cabo os seus planos com precisão fantástica, sem que nada lhes importe. O sangue, para eles, são medalhas. A matança é acto de heroísmo. É este o mundo que criaste, meu Deus? Para isso os teus sete dias de assombro e trabalho? Nestas quatro muralhas só existe um número que não cresce e que lentamente quererá mais a morte. Mas prontamente me golpeia a consciência e vejo esta maré sem pulsar, mas com o pulsar das máquinas e os militares mostrando seu rosto de matrona, cheio de doçura. E o México, Cuba e o mundo? Que gritem esta ignomínia! Somos dez mil mãos a menos que não produzem. Quantos somos em toda a pátria? O sangue do companheiro Presidente golpeia mais forte que bombas e metralhas. Assim o nosso punho golpeará novamente. Como me sai mal o canto quando tenho de cantar o espanto! Espanto como o que vivo como o que morro, espanto. De ver-me entre tantos e tantos momentos do infinito em que o silêncio e o grito são as metas deste canto. O que vejo nunca vi, O que tenho sentido e o que sinto Fará brotar o momento...” Victor Jara (Estádio de Santiago do Chile, 1973)

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