How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
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domingo, dezembro 28, 2008
Três dias sem escrever
Foram três dias. Três dias sem escrever. Diziam os antigos que um escritor deve produzir ao menos uma linha por dia. Foram três dias sem escrever uma linha, sem arriscar uma palavra, uma vírgula sequer. Três dias com suas três noites. A morte do texto. O escritor paralisado. Perplexo diante de sua própria inatividade.
Foram três dias sem pensar, sem ler, sem escrever. Três dias de exílio. De jejum forçado. De desmaio. De coma profundo. De olhar perdido em direção nenhuma. Vontade apenas de fazer algo bem burocrático, bem automático, bem carimbático, bem sorumbático.
Foram três dias. Nem longos nem curtos. A morte não tem medida, não usa relógio. O escritor morto pensa em tudo aquilo que nunca poderia ter acontecido e jamais acontecerá. O escritor morto, respirando o mínimo possível. Nem dormindo nem trabalhando. Foram três dias que valeram por três mil. Ou por três segundos.
Foram três dias debaixo da terra. As idéias morreram. As palavras definharam. Não há conexão. Não há linha. Não há jeito. Não há forma. Não há como. Não há nada. Morte indolor. Morte sem anúncio. Morri. Três dias.
Foram três dias perdidos. Três dias no fundo do mar. Três dias no deserto. Três dias sepultado. Três dias crucificado. Três dias arruinado. Três dias falido. Três dias esmagado por todos os pesos.
Foram três dias. O motivo não vem ao caso. Três dias de azar. Três dias vagando pela terra, como os lêmures, querendo vingar-me do mundo. Três dias sem inspiração, se é que existe inspiração. Três dias sem projetos, se é que projetos fazem algum sentido.
Depois de três dias, um passarinho começou a cantar.
Dizem que um é pouco, dois é bom, três já é demais. No terceiro dia, ressuscitei dentre os mortos. Nunca mais serei o mesmo. Não se vive a morte impunemente. Não se morre à toa. Morrer durante três dias é tempo além da conta. Não morrerei de novo.
O escritor voltou a escrever. Escravo da escrita, escrevo outra vez. Nem melhor nem pior do que antes. Três dias estéreis trazem progressos insignificantes. O importante não é importante.
De repente... estava vivo. Três dias foram o suficiente. É desagradável morrer. É imprescindível renascer. Não desejo a morte a ninguém. Mas a todos desejo que, mortos um dia, ao terceiro dia venham contar o que aconteceu.
Gabriel Perissé*
*professor e escritor
Publicado no jornal digital Correio da Cidadania
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