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sábado, setembro 06, 2008

A sombra das palavras As palavras nos recriam. Às vezes, belas, nos reconciliam com o vôo das cousas em mistério ou o magistério da solidão das nuvens do Sião. Elas guardam a prenhez de lobas solitárias. A lividez das cousas fontanárias. E as albas e os montes cobrindo o descolor de velhos horizontes. Ou de nossas feridas e súbitas partidas para o nunca mais. E tudo nelas é um velho cais onde tentamos amar. E ancorar. Podemos ir a Tebas, dançar em Babilônia, ou ter uma alma dórica ou jônia. E partir para o desconhecido. Ou sermos apenas um gemido por não havermos beijado os seios da Donzela em sua cidadela. As palavras são fendas de onde vemos palomas descerem sobre lendas e canções emoldurarem as moças nas varandas, ou as plumas da tarde, as cousas mais brandas e as pedras sagradas em que se escondem as cartas das Amadas. Em ritmo e verdade celebram a desventura de nosso desviver e a incessante loucura do entardecer fatal da Poesia. Às vezes, têm o cristal puríssimo do dia, mas chegam com leveza de pés de bailarinas ou de róseas algas vespertinas dormindo sobre espumas. E são brumas abrindo-se no verso como rosas, frágeis e formosas, quais luzes de estrelas num rondó. E mesmo poucas e loucas estão nos sete anos de Jacó. Os poetas são seus turiferários, que êxtases ofertam, nos itinerários, com um canto a prolongar por terras de Aragão, ou às margens do Jordão, fazendo do sonho uma estrela polar. Em seu ir e vir pelos campos desertos ou as tardes de Ofir, tentam limpar a pátina e o bolor do tempo interior. Ou fazem renascer o perfume e o lume da espera e da vida. E essa é sua glória. Sua lida. Seu barco, a descer, lento pelos rios de nosso pensamento, enquanto em sedução e solidão transformam-se em abismo ou alumbramento. Artur Eduardo Benevides* *poeta brasileiro

1 comentário:

  1. "da solidão das nuvens do Sião"
    bonito demais este poema
    bom fim semana
    e beijinhos das nuvens

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