How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
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terça-feira, agosto 05, 2008
É preciso ler um pouco
É preciso ler um pouco de tudo.
É preciso ler um pouco de psicologia, para descobrir o poço sem fundo da alma.
É preciso ler um pouco de poesia, para penetrar nesse poço sem fundo, e nele afundar até o gozo.
É preciso ler um pouco de teologia, para descobrir que indo mais fundo no poço sem fundo encontraremos a Deus.
É preciso ler um pouco do jornal do dia, para descobrir que o mundo já chegou ao fundo do poço, mas ainda continua descendo.
É preciso ler um pouco de geologia, para descobrir novos poços sem fundo nesse mundo fecundo.
É preciso ler um pouco de magia, para descobrir no fundo do poço mais fundo o enigma mais profundo.
É preciso ler um pouco de filosofia, para descobrir que o mundo não é imundo, é apenas um poço sem fundo dentro de outro poço ainda mais fundo.
É preciso ler um pouco de biologia, para descobrir a vida se debatendo no fundo, no fundo mais fundo do poço sem fundo.
É preciso ler um pouco de antropologia, para descobrir que somos esse próprio poço sem fundo, fundamento de tudo o que somos.
É preciso ler um pouco de arqueologia, para descobrir uma cidade no poço sem fundo.
É preciso ler um pouco de astronomia, para descobrir que o céu é também um poço sem fundo, oceano negro em que nadam estrelas e interrogações.
É preciso ler um pouco de espeleologia, para descobrir que a caverna sem fundo guarda outros tantos poços sem fundo.
É preciso ler um pouco de filologia, para decifrar a linguagem do poço sem fundo.
É preciso ler um pouco de metodologia, para descobrir os caminhos que há dentro do poço sem fundo.
É preciso ler um pouco de etruscologia, grafologia, nefrologia, opsologia, ovniologia, papirologia, parapsicologia, piretologia, pomologia, psefologia, selenologia e todas as logias possíveis, para descobrir o poço sem fundo da nossa curiosidade.
É preciso ler um pouco de tudo, embora seja muito pouco. Que esse pouco, porém, seja suficiente para nos fazer vislumbrar no poço sem fundo a ausência desse fundo.
Ler um pouco de tudo, mas ler a fundo esse pouco.
Ler um pouco, tendo como pano de fundo a sede de saber.
Ler um pouco, mas, mesmo sendo pouco, ler contrafundo.
Ler um pouco, a fundo perdido.
Gabriel Perissé*
*professor e escritor
Publicado no jornal digital Correio da Cidadania
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