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quarta-feira, julho 16, 2008

Poema a um saco de pão Todos os dias, Os homens experimentam e espreitam Aquelas inseguranças incondicionais. Todos os dias, os homens Pensam que desfrutam a vida Compram flores e lançam ao lixo Os sacos de pão. Queimam jornais. Escutam discos que jamais ouvirão Canções que não ouvirão jamais. Todos os dias, os homens acreditam E tornam alguns verbos mais intransitivos Pela sua carência de objetos. Tenacidade. Alicerces solidificados. E tu, saco de pão, Que como a minha alma se esvazia em solidão, Que rasga o ar e atira as laranjas pelo chão, Que encontra em seu silêncio a pobre forma de expressão, Aguarda, companheiro. Somos nós os pioneiros, vindos da cova mais funda, Pioneiros, como o Fusca, o ODD, o condicionador de ar, Os cotonetes da Johnson & Johnson's, Somos párias e deuses. Somos os últimos heróis da resistência espedaçada, Os soldados do exército que atravessa o oceano Rumo a um país desconhecido lutar com quem sabe quem. Cavaleiros do apocalipse. Somos nós que acordamos as crianças do sono, em cada noite, Os monstros habitando os túneis do metrô. E mais que eu, saco de pão, És feliz porque aproveitas a tua solidão, Não vives, És mudo, livre, tosco, pobre e só. André Ricardo Barreto de Oliveira* *poeta brasileiro

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