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domingo, fevereiro 17, 2008

O livro Em teu corpo de retangular inércia encontro a dinâmica da vida. Na nudez calada de tuas páginas ouço cantares, desvendo mistérios Inerte objeto sobre a estante ou sobre a mesa em ti não se sepultam santos mártires heróis em teu seio redivivos. Em tudo o que se faz em ti se preserva. O agora se torna sempre na perpetuação do gesto. Em ti o morto, renascido, se faz lembrança sempiterna. Não só o passado reténs na universal memória: liame das épocas em corrente de vida. Em ti se devassam mundos se descortina o amanhã em pressentida visão. Não foi do Cabo Canaveral ou de algum ponto da Rússia que primeiro partiram os cosmonautas em busca do espaço sideral. Em teu bojo estático Júlio Verne devassara o éter a geografia dos astros percorreu o sub-mar desvirginou o centro da terra. Textura que gravou para sempre o amai-vos de Cristo a ternura de Francisco de Assis o amor o sonho a dúvida de Hamlet D. Quixote em luta contra os moinhos de vento - antecipa-se o que virá na intuição dos gênios. Em tuas páginas tudo cabe - a própria antítese da vida o bem, o mal, a guerra, a paz, o ódio, o amor, o gesto simples ou heráldico, a mentira, a verdade e Anne Frank, com olhar ardente, vinga sua morte, fustigando Hitler. Nada exiges. És amante em entrega total. Fazes pensar na aceitação do dito ou recusa do escrito. Dizes. Não impões. És simples monólogo contudo audível a quem o lê. Não é no chão ou nas estrelas no mar ou no céu na rosa ou no vento que a liberdade se encontra. Em teu corpo, livro, ela sempre alvorece E se te queimam, em chamas ardentes, das cinzas ressurges sempre a proclamar verdades desnudar mistérios semear amor liberdade paz. Aluysio Mendonça Sampaio* *poeta brasileiro

2 comentários:

  1. Gostei muito!
    Abraço

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  2. Obrigado, Bernardo. Como poema do "livro", não tinha encontrado tão bom.

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