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terça-feira, junho 05, 2007

da morte escura Chamava-se Federico Garcia Lorca e nasceu em Fuente Vaqueros, pequena localidade da Andaluzia, em 5 de Junho de 1898. Pouco depois ter completado 38 anos, foi executado com um tiro na nuca, cobardemente e sem qualquer julgamento, tendo o seu corpo sido escondido numa vala comum algures na Serra Nevada, onde ainda permanece. A mando de um general às ordens de Franco, no início de uma Guerra Civil que assassinou centenas de milhares de lutadores pela liberdade e contra a instauração de uma ditadura. Ditadura que saiu da Falange vencedora, aspergida com água benta pelo episcopado espanhol, e que alguns negam que tenha existido, como negam que em Portugal tenha existido uma de igual calibre. Uma vida muito curta, mas que lhe permitiu ser considerado o maior autor espanhol desde Miguel de Cervantes. Para que, como em Portugal, a memória não se apague do outro lado da fronteira. Quero dormir o sono das maçãs, afastar-me do tumultuar dos cemitérios. Quero dormir o sono do menino que queria cortar o coração no alto mar. Não quero que me repitam que os mortos não perdem o sangue; que a boca podre continua a pedir água. Não quero conhecer os martírios que a erva dá, nem a lua com boca de serpente que trabalha antes do amanhecer. Quero dormir um pouco, um pouco, um minuto, um século; mas todos saibam que não morri ainda; que há um estábulo de oiro nos meus lábios; que sou o pequeno amigo vento do Oeste; que sou a imensa sombra de minhas lágrimas. De madrugada, cobre-me com um véu, porque me lançará punhados de formigas, e molha com água dura meus sapatos para que resvale a pinça de seu lacrau. porque quero dormir o sono das maçãs para aprender um pranto que me limpe de terra; porque quero viver com o menino escuro que queria cortar o coração no alto mar. Federico Garcia Lorca

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