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terça-feira, abril 10, 2007

Teixeira de Melo José Alexandre Teixeira de Melo, falecido há exactamente um século (Rio de Janeiro, 10 de Abril de 1907), foi um médico, jornalista e escritor brasileiro. Tendo trabalhado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro durante 24 anos, os últimos 6 como seu director, é considerado um pesquisador meticuloso, tendo parte da sua produção literária sido voltada para a historiografia, e as suas pesquisas nos documentos sob a sua guarda serviram de apoio e prova para os embates territoriais enfrentados pelo Brasil face aos seus vizinhos. Entre essa produção técnica destacam-se "Efemérides Nacionais" e "Limites do Brasil com a Confederação Argentina". Como poeta, pertenceu à geração romântica de Casimiro de Abreu, Luís Delfino e Luís Guimarães. No prefácio às suas Poesias (1914), Sílvio Romero qualificou-o como "um lirista de primeira ordem no Brasil", que se distingue por "certa singularidade, certa elevação graciosa e delicada das frases, além da completa correcção da língua e da forma métrica, características que o tornam um precursor do Parnasianismo".
Não te amo, ó Sol, senão como rascunho Da luz de Deus! Senão como lembrança Da mão que te acendeu, lâmpada de ouro, Por sobre o abismo em que eu trema da morte, A teus pés pela vida às tontas erro.
Verme que esconde um átomo da essência
Que te anima e renova! Átomo mesmo
Do pó da eternidade em frágil vaso
Amassado de sangue e pranto e orgulho!
(Excerto do poema "Ao Sol" que, pela sua extenção, reproduzi no comentário 1)

2 comentários:

  1. Teixeira de Melo
    Ao Sol

    Não te amo, ó Sol, senão como rascunho
    Da luz de Deus! Senão como lembrança
    Da mão que te acendeu, lâmpada de ouro,
    Por sobre o abismo em que eu trema da morte,
    A teus pés pela vida às tontas erro.

    Verme que esconde um átomo da essência
    Que te anima e renova! Átomo mesmo
    Do pó da eternidade em frágil vaso
    Amassado de sangue e pranto e orgulho!

    Águia sem asas — fito-te um momento
    E tua luz me embebeda e faz vertigens!
    Amo o silêncio, a sombra, o isolamento,
    Embora os do sepulcro! E tu, abutre
    De asas de fogo, eterno pirilampo
    Em basta selva, acima esvoaçando
    De milhões de cadáveres corruptos
    Que o tempo, rio rápido e revolto,
    Roda até ao mar sem raias do infinito,
    Insultas minha dor, meu pranto estancas!

    Tu vês sem dó arcar a humanidade
    Sob o peso de séculos e séculos
    Sempre moça e garrida e fátua sempre,
    À luz dos raios concertando as braças
    Que o vento desatou, tingindo as faces
    Macilentas da orgia e das insônias,
    E abrindo os alvos seios infecundos
    Ao beijo frio do que tem mais ouro!
    Tu vês de longe a louca humanidade,
    Nova Eva despertando entre as delícias
    Da vida sem a morte, ambicionando
    Outra vida melhor, mais curta embora!
    Penélope senil que se não cansa
    De a eterna teia desmanchar contudo
    Que o esposo a venha achar tecendo ainda!

    Ou doida Ofélia a desfolhar sem fino
    Sua coroa de noiva – antes da noite!
    E o mundo de Panúrgio e Sancho Pança
    Te vê passar também como um sarcasmo
    Palpitante de fel, e ri-se ao ver-te!

    É sempre nova a velha humanidade!
    Só o homem passa — palha ou flor de feno —
    Nas garras do tufão que não te alcança!
    Como ela viverás... mas momento
    A mão que te acendeu pode apagar-te.
    Eu te amaria, ó Sol, se por um dia
    Conhecesse o segredo que me escondes
    Das tontas gerações que patinharam
    — Como as de hoje — na lama e adormeceram
    Na esteira do passado, entre as neblinas
    Das era que, impassível como o tempo,
    Desde o primeiro dia alumiaste.

    Podes, feixe de luz que te desatas
    No colo requeimado do universo,
    Dar-me um raio dos teus com que ilumine
    Minha cegueira a tatear na sombra
    Das exploradas minas de ouro puro,
    Hoje cinza e carvão, dessa linguagem
    Sublime e rude — do cantor mendigo
    Da Grécia, o heróico berço em que tu nasces,
    E onde Byron morreu contigo, ó Grécia!

    Ó Sol, olho de Deus aberto sempre,
    Guia meus passos trêmulos ainda
    Por entre as flores dos jardins celestes
    Em que Camões ceifou perpétuos louros!
    Para cantar as lendas esquecidas
    Do ninho meu paterno, à sombra amiga
    Das copadas mangueiras embalado
    Pelas auras dos trópicos aos cantos
    Da ferrenha araponga do deserto;
    Para cantar as graças feiticeiras
    Do meu berço de musgo ainda selvagem
    Como os primeiros que dormiram nele,
    Dá-me um raio dos teus! um só me basta
    Que me esqueçam depois... terei vivido!
    Que tu, página branca para o mundo,
    Irás talvez vagar onde eu já durma,

    No leito frio em que me espera o olvido.
    Hei-de acordar das matas seculares
    Onde o silêncio é o canto do passado,
    O gênio adormecido desses tempos
    Que sob os olhos meus às vezes passam.

    Dá-me imagens de fogo ainda virgens
    Das mãos calmas dos cantores todos.
    Triste bardo das raças do deserto,
    Hei-de pedir-te, ó Sol, que as requeimaste,
    A história triste das extintas tribos!
    Hei-de rasgar a página mais pura
    Do livro virginal da natureza!
    Hei-de arrancar ao colibri — das penas
    O pó dourado e azul — para escrevê-la!
    Hei-de quebrar as asas furta-cores
    Das nossas borboletas, para dá-las
    Em saudoso holocausto à pátria e ao mundo!

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  2. Gostei muito do poema! O amor/ódio pelo Sol é muito bem descrito.
    Grande abraço

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