Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco nasceu em Lisboa, a 16 de Março de 1825.
Autor de mais de 50 obras, a sua vida atribulada, que dava, ela própria, tema para uma mão cheia de romances, serviu-lhe, muitas vezes, de inspiração para as suas novelas.
Expoente máximo do romantismo em Portugal, a sua obra extravasa, porém, aquela escola literária. Jacinto do Prado Coelho, por exemplo, considerou que sendo “ideologicamente flutuante, Camilo mantém-se um narrador de histórias românticas ou romanescas com lances empolgantes e situações humanas comoventes” e também que “O romantismo de Camilo é um romantismo em boa parte dominado, contido, classicizado” e, ainda, que há ao “lado do seu alto idealismo romântico a viril contenção da prosa, um bom-senso ligado às tradições e a certo cânones clássicos, um realismo sui generis, de vocação pessoal que parece na razão directa da autenticidade do seu romantismo”.
Retirado de uma obra de 1962, pouco conhecida mas que merece ser visitada muitas vezes, um pequeno e saboroso naco da sua prosa:
Entendem cordatos fisiologistas que o amor, em certos casos, é uma depravação do nervo óptico. A imagem objectiva, que fere o órgão visual no estado patológico, adquire atributos fictícios. A alma recebe a impressão quimérica tal como o sensório lha transmite, e com ela se identifica a ponto de revesti-la de qualidades e excelências que a mais esmerada natureza denega às suas criaturas dilectas. Os certos casos em que acima se modifica a generalidade da definição, vêm a ser aqueles em que o bom senso não pode atinar com o porquê dalgumas simpatias esquisitas, extravagantes, e estúpidas, que nos enchem de espanto, quando nos não fazem estoirar de inveja.
Autor de mais de 50 obras, a sua vida atribulada, que dava, ela própria, tema para uma mão cheia de romances, serviu-lhe, muitas vezes, de inspiração para as suas novelas.
Expoente máximo do romantismo em Portugal, a sua obra extravasa, porém, aquela escola literária. Jacinto do Prado Coelho, por exemplo, considerou que sendo “ideologicamente flutuante, Camilo mantém-se um narrador de histórias românticas ou romanescas com lances empolgantes e situações humanas comoventes” e também que “O romantismo de Camilo é um romantismo em boa parte dominado, contido, classicizado” e, ainda, que há ao “lado do seu alto idealismo romântico a viril contenção da prosa, um bom-senso ligado às tradições e a certo cânones clássicos, um realismo sui generis, de vocação pessoal que parece na razão directa da autenticidade do seu romantismo”.
Retirado de uma obra de 1962, pouco conhecida mas que merece ser visitada muitas vezes, um pequeno e saboroso naco da sua prosa:
Entendem cordatos fisiologistas que o amor, em certos casos, é uma depravação do nervo óptico. A imagem objectiva, que fere o órgão visual no estado patológico, adquire atributos fictícios. A alma recebe a impressão quimérica tal como o sensório lha transmite, e com ela se identifica a ponto de revesti-la de qualidades e excelências que a mais esmerada natureza denega às suas criaturas dilectas. Os certos casos em que acima se modifica a generalidade da definição, vêm a ser aqueles em que o bom senso não pode atinar com o porquê dalgumas simpatias esquisitas, extravagantes, e estúpidas, que nos enchem de espanto, quando nos não fazem estoirar de inveja.
E tanto mais se prova a referida depravação do nervo que preside às funções da vista, quanto a alma da pessoa enferma, vítima de sua ilusão, nos parece propensa ao belo, talhada para o sublime e opulentada de dons e méritos, que o mais digno homem requestaria com orgulho.
Camilo Castelo Branco
( in 'Coração, Cabeça e Estômago' – Obras Escolhidas – Décimo Volume – Círculo de Leitores – Dezembro de 1981 )
Imagem: gravura de Francisco Pastor.
Interessante.
ResponderEliminarBom fim-de-semana!
Abraço
De facto interessante, mas como me obrigaram a ler o "Amor de Perdição" no liceu, fiquei a detestá-lo. :(
ResponderEliminarCoitado do Camilo, sem culpa alguma.