How many times must a man look up, Before he can see the sky? How many ears must one man have, Before he can hear people cry? The answer, my friend, is blowin' in the wind. The answer is blowin' in the wind.
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quarta-feira, fevereiro 28, 2007
A águia e a macroeconomia
Há anos, quando escrevi o livro A águia e a galinha, uma metáfora da condição humana, estudei a fundo o comportamento das águias. E percebi que nele há grandes lições que podemos aplicar a situações atuais. Hoje me proponho recolher uma delas que não pôde ser explorada no referido livro: a forma como as águias ensinam seus filhotes a ser autônomos e a voar com suas próprias forças.
É sabido que as águias fazem seus ninhos no alto das montanhas ou na copa das grandes árvores. O tamanho do ninho é considerável: um metro de altura, três de comprimento e dois de largura. Depois de nascer, os filhotes ficam aí por dois meses, alimentados pela mãe até estarem aptos a voar.
Após certo tempo, a mãe escasseia a comida. Em substituição, começa a pairar longamente sobre o ninho a fim de mostrar aos filhotes o vigor de suas asas e sua capacidade de voar. Então desce sobre o ninho e começa a empurrar o filhote contra a borda até fazê-lo cair. E ao cair, se apressa em ampará-lo sobre suas asas estendidas. E depois o devolve ao ninho. Repete várias vezes a cena, pairando sobre o ninho, fazendo círculos para desafiar os filhotes a superarem o medo, a confiarem em suas jovens asas e a quererem voar. E faz isso até os filhotes se libertarem. Curiosamente o livro do Deuteronômio testemunha este fato: "Deus é semelhante à águia que desperta a ninhada, voando sobre seus filhotes, estendendo as asas para segurá-los e carregá-los sobre suas penas" (32,11).
É a prova de risco e de coragem a que a mãe-águia submete o filhote para que ganhe confiança em suas próprias forças e comece a voar autonomamente. A fim de impedir que volte ao ninho, remexe as folhas e os galhos para fazê-lo não mais habitável. Finalmente, o filhote começa a voar e procura por ele mesmo o seu próprio alimento. Agora é já águia adulta.
A lição é cristalina: não podemos ficar eternamente no berço e sob a asas dos pais. Há que enfrentar a vida com seus desafios que muitas vezes nos fazem dizer:"Meu Deus, será que estou à altura"? Percebemos o risco e a possibilidade do fracasso. Mesmo que fracassemos, sempre podemos aprender. Por outro lado, nunca falta alguma asa a nos amparar e algum ombro amigo no qual podemos nos apoiar. Resumindo: vamos ganhando coragem para voar por nós mesmos e seguir o rumo que nós mesmos traçamos.
Outra lição: as tarefas que nos propomos, devem conter exigências que pareçam ir além de nossas forças. Caso contrário, não descobrimos nosso poder nem conhecemos nossas energias escondidas e assim deixamos de crescer.
Esta lição aplico-a à atual política econômica do Governo. Sabidamente manteve-se a macroeconomia neo-liberal, aceitando o receituário do FMI e do Banco Mundial. O que obrigou a sacrificar as políticas sociais punindo os pobres. É a opção preguiçosa dos que preferem ser galinhas a águias. Recusam a difícil alternativa de discutir, negociar e pressionar até abrir um caminho novo que faça da economia um instrumento da política social voltada para as maiorias. Essa atitude os faria ser águias e não galinhas. Estes é que garantem as transformações sociais imprescindíveis para superar as desigualdades gritantes. O destino de um povo é ser águia e voar autonomamente. Missão dos políticos é fazer o que fazem as águias com os filhotes: estimular o povo a voar livremente e a plasmar o destino de seu pais.
Leonardo Boff
Publicado no site do autor em 25/02/2005 e aqui afixado com a sua autorização.
Nota: qualquer semelhança com a realidade portuguesa não é mera coincidência.
Muito, muito interessante!
ResponderEliminarAbraço!
Quais políticos? Os nossos nem sabem o que é o social, quanto mais trabalhar para ele!
ResponderEliminar:(