sexta-feira, abril 30, 2010

Falta de Liderança

A liderança é uma poderosa combinação de estratégia e carácter. Mas se tiver de passar sem um, que seja estratégia.

As hesitações da chanceler alemã no que diz respeito ao problema grego mostram que a eurolândia não tem nem estratégia nem carácter para lidar com situações complexas, deixando degradar até quase ao limite do não retorno a situação naquele país e fazendo afundar, também, outros países, como Portugal e Espanha, a que se seguirão a Itália e a Irlanda.

Estivessem à frente dos destinos da zona euro pessoas da craveira de um Delors, de um Miterrand ou de um Kohl, concorde-se muito, pouco ou nada com as suas posições ideológicas, certamente as coisas não teriam chegado a este ponto. Lamentavelmente, temos de continuar a assistir à incapacidade de cada um olhar para lá do seu próprio umbigo.

quinta-feira, abril 29, 2010

Crise Real




























Cartoon: Josetxo Ezcurra
Canção Violeta

Amo o roxo. E vai que fazes?
A luz tamisas de malva
E roxa desponta a alva
Sobre a colcha de lilases.

Roxos alastram os razes.
E tu das-te nua e alva
Lírio roxo numa salva
Sobre a colcha de lilases.

Com suas pestanas pretas
As tuas pálpebras roxas
São duas grandes violetas.

E, por mais gosto da vida,
Depois que a lâmpada afrouxa,
Fez-se a alcova de ametista.

quarta-feira, abril 28, 2010

Um acto de guerra


Da declaração do congressista republicano Ron Paul perante a Câmara dos Representantes, no dia 22 de Abril, acerca da legislação sobre o agravamento das sanções ao Irão.

Horas Mortas

Breve momento após comprido dia
De incômodos, de penas, de cansaço
Inda o corpo a sentir quebrado e lasso,
Posso a ti me entregar, doce Poesia.

Desta janela aberta, à luz tardia
Do luar em cheio a clarear no espaço,
Vejo-te vir, ouço-te o leve passo
Na transparência azul da noite fria.

Chegas. O ósculo teu me vivifica
Mas é tão tarde! Rápido flutuas
Tornando logo à etérea imensidade;

E na mesa em que escrevo apenas fica
Sobre o papel — rastro das asas tuas,
Um verso, um pensamento, uma saudade.


*poeta carioca

terça-feira, abril 27, 2010

Políticos

Existem dois tipos de políticos: os que lutam pela consolidação da distância entre governantes e governados e os que lutam pela superação dessa distância.

Antonio Gramsci

segunda-feira, abril 26, 2010

Pergunta

Será realmente a face do Universo
A face da Medusa,
Esta geral destruição confusa,
Este criar perverso,

Ou será a máscara, álgida e estrelada,
Onde os cometas passam,
Turva de treva, rútila de nada,
E onde olhos se espedaçam?


* poeta carioca

domingo, abril 25, 2010

Cantiga de Abril 

Às Forças Armadas e ao povo de Portugal

“Não hei-de morrer sem saber qual a cor da liberdade”

Jorge de Sena


Qual a cor da liberdade?

É verde, verde e vermelha.

Quase, quase cinquenta anos
reinaram neste país,
e conta de tantos danos,
de tantos crimes e enganos,
chegava até à raiz.

Qual a cor da liberdade?

É verde, verde e vermelha.

Tantos morreram sem ver
o dia do despertar!
Tantos sem poder saber
com que letras escrever,
com que palavras gritar! 

Qual a cor da liberdade?

É verde, verde e vermelha.

Essa paz de cemitério
toda prisão ou censura.
e o poder feito galdério,
sem limite e sem cautério,
todo embófia e sinecura. 

Qual a cor da liberdade?

É verde, verde e vermelha.

Esses ricos sem vergonha,
esses pobres sem futuro,
essa emigração medonha,
e a tristeza uma peçonha
envenenando o ar puro. 

Qual a cor da liberdade?

É verde, verde e vermelha.

Essas guerra de além-mar
gastando as armas e a gente,
esse morrer e matar
sem sinal de se acabar
por política demente. 

Qual a cor da liberdade?

É verde, verde e vermelha.

Esse perder-se no mundo
o nome de Portugal,
essa amargura sem fundo,
só miséria sem segundo,
só desespero fatal. 

Qual a cor da liberdade?

É verde, verde e vermelha.

Quase, quase cinquenta anos
durou esta eternidade,
numa sombra de gusanos
e em negócios de ciganos,
entre mentira e maldade.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Saem tanques para a rua,
sai o povo logo atrás:
estala enfim, altiva e nua,
com força que não recua,
a verdade mais veraz.

Qual a cor da liberdade?
É verde, verde e vermelha.

Jorge de Sena

sábado, abril 24, 2010

Barbarismos


Sendo o Irão propenso a terramotos, com especial incidência na sua capital, onde a cultura está mais ou menos ocidentalizada, o homem pensará, provavelmente, o seguinte: mulheres com a cara e cabelo à mostra, atraem terramotos de magnitude 6 na escala de Richter; se usarem saias pelos joelhos, a intensidade passará a 7; a base dos seios à mostra dará pelo menos 8; se se atreverem a vestir minissaia, a magnitude passará dos 9; e se não vestirem calcinhas, seja por opção seja por não terem dinheiro para as comprar, Teerão será erradicada do mapa.

Só de pensar que na nossa pretensamente evoluída civilização ocidental ainda há quem pense de forma semelhante, dá-me arrepios.

De palavra em palavra

De palavra em palavra
a noite sobe
aos ramos mais altos

e canta
o êxtase do dia

sexta-feira, abril 23, 2010

“Madurezas”

Um “maduro” de West Hartford, no Connecticut, que andava em disputa com uma vizinha, decidiu fazer uma aposta arriscada para a atormentar: colocar um falso anúncio de “sexo em grupo” no sítio da Craigslist, como se o mesmo fosse da autoria da referida vizinha e com a indicação da sua morada. A coisa não correu conforme o esperado e a polícia chegou até ao verdadeiro autor, prendendo-o e obrigando-o a pagar 75.000 dólares para aguardar o julgamento em liberdade. Sendo o homem cozinheiro, é caso para dizer que entornou o caldo e deixou esturrar a massa. É que há brincadeiras que não têm qualquer graça.
AUTO-RETRATO

Entre a espuma e a navalha sou legenda
O espelho neutraliza o ângulo da morte,
a barba estrangulou a metafísica
e o problema do mal é bem remoto.
Aqui sim!
Aqui resistirei à mímica,
ao dicionário e ao laboratório !
- a herança do punhal brilha de novo
- o fantasma de Abel não me intimida.
Vejo a testa crescer
entre espirais de fumo,
o olhar que não vacila,
da ruga a pré-história
e o peito rasgado
pela fúria do poema.

Aqui sim,
aqui iniciarei a espécie nova,
aqui derrotarei o homem-harpa
e pronto estou para a descoberta do sexo.
O pincel dá-me o poder do patriarca,
a navalha redua a timidez e o medo,
o palavrão rola na boca e salva o mundo.


*poeta brasileiro

quinta-feira, abril 22, 2010


Canção Mínima

No mistério do sem-fim
equilibra-se um planeta.

E, no planeta, um jardim,
e, no jardim, um canteiro;
no canteiro uma violeta,
e, sobre ela, o dia inteiro,

entre o planeta e o sem-fim,
a asa de uma borboleta.

Cecília Meireles

quarta-feira, abril 21, 2010


Um banqueiro é um homem que te empresta o chapéu de chuva quando faz sol e que to tira quando começa a chover.

Bombas...

Bombas limpas, disseram? E tu sorris
E eu também. E já nos vemos mortos
Um verniz sobre o corpo, limpos, estáticos,
Mais mortos do que limpos, exato
Nosso corpo de vidro, rígido
À mercê dos teus atos, homem político.
Bombas limpas sobre a carne antiga.
Vitral esplendente e agudo sobre a tarde.
E nós na tarde repensamos mudos
A limpeza fatal sobre nossas cabeças
E tua sábia eloqüência, homens-hienas

Dirigentes do mundo.

terça-feira, abril 20, 2010

segunda-feira, abril 19, 2010

O exemplo das rosas

Uma mulher queixava-se do silêncio do amante:
- Já não gostas de mim, pois não encontras palavras para me louvar!
Então ele, apontando-lhe a rosa que lhe morria no seio:
- Não será insensato pedir a esta rosa que fale?
Não vês que ela se dá toda no seu perfume?

domingo, abril 18, 2010

Apocalipse

As velas estão abertas como luzes.
As ondas crespas cantam porque o vento as afogou.
As estrelas estão dependuradas no céu e oscilam.
Nós as veremos descer ao mar como lágrimas.
As estrelas frias se desprenderão do céu
E ficarão boiando, as mãos brancas inertes, sobre as águas frias.
As estrelas serão arrastadas pelas correntes boiando nas águas imensas.
Seus olhos estarão fechados docemente
E seus seios se elevarão gelados e enormes
Sobre o escuro do tempo.

sábado, abril 17, 2010

A imprensa livre



























Cartoon: Pedro Mendez
Poeminha Triste

Nem chuvas nos campos
nem encantos na vida
nem sonhos em lugar algum.
Dobro as esquinas dessa avenida
e devagar caminho pelos passeios desertos
onde encontro os solitários e viajantes da noite.

Debruço sobre os entulhos de uma construção
minhas palavras que já foram poemas
e enfeitaram os jardins de algum sonhador;
Nada de novo,
nada de falso nem de verdadeiro
as coisas simplesmente passam porque tem que passar;

Pobre é essa noite que já nasceu sem graças
e não inspirou nem uma poesia
e vai morrer sem saudades...

Fernando Mendes Rosendo*

*poeta brasileiro

sexta-feira, abril 16, 2010

Políticos

Eu continuo a ser uma coisa só, apenas uma coisa - um palhaço, o que me coloca em nível bem mais alto que o de qualquer político.

quinta-feira, abril 15, 2010

Ao Tempo

Tempo, vais para trás ou para diante?
O passado carrega a minha vida
Para trás e eu de mim fiquei distante,

Ou existir é uma contínua ida
E eu me persigo nunca me alcançando?
A hora da despedida é a da partida

A um tempo aproximando e distanciando...
Sem saber de onde vens e aonde irás,
Andando andando andando andando andando

Tempo, vais para diante ou para trás?


*poeta brasileiro

quarta-feira, abril 14, 2010

Criminosos relapsos












O coronel Lawrence Wilkerson, antigo chefe do pessoal do general Colin Powel enquanto Secretário de Estado no primeiro mandato do Sr. W., declarou recentemente que George W. Bush, Dick Cheney e Donald Rumsfeld encobriram o facto de centenas de inocentes terem sido enviados para a prisão de Guantánamo porque temiam que libertá-los pusesse  em causa o seu esforço para invadir o Iraque bem como a sua mais ampla guerra ao terror. Afirmou, também, que a maioria dos detidos – desde crianças de 12 anos até idosos de 93 – nunca viu um soldado estado-unidense aquando da sua detenção porque muitos foram tansaccionados como mercadoria por afegãos e paquistaneses a 5.000 dólares por cabeça.

Mais uma clara manifestação da “democracia” com que se cose a maioria dos nossos políticos, “fazedores de opinião” e paladinos da “liberdade de imprensa”, sempre atentos, veneradores e obrigados àquele trio de facínoras.

Imagem: Andres Leighton/AP

terça-feira, abril 13, 2010

Moral

Os moralistas são pessoas que coçam onde os outros têm comichão.

Limpeza étnica

Uma nova ordem militar israelita transforma em crime, punível com pena de prisão até 7 anos, o simples facto de alguém viver na Cisjordânia sem autorização.


Assim vão os “direitos humanos” e a “democracia” numa terra ilegalmente ocupada por um estado terrorista com o aval do ocidente. E os terroristas são os outros!

segunda-feira, abril 12, 2010

a mais clara estrela

os olhos vão tão longe

procuram-te no rasgo do espaço
na mais clara estrela

e já na lâmina acesa
do meu sono pergunto:
- onde pousa a voz?

de súbito desliza o branco
iluminado
no secreto sopro

Maria Costa

(poetisa mafrense)
Competência

Quando se navega sem destino, nenhum vento é favorável.

domingo, abril 11, 2010

Florismundo

Mundo,
imundo
e mudo,
muda!
Muda e,
em muda,
te faz flor.

Fernando José dos Santos Oliveira*

*poeta brasileiro

sábado, abril 10, 2010

Eu Voltarei

Meu companheiro de vida será um homem corajoso de trabalho,
servidor do próximo,
honesto e simples, de pensamentos limpos.

Seremos padeiros e teremos padarias.
Muitos filhos à nossa volta.
Cada nascer de um filho
será marcado com o plantio de uma árvore simbólica.
A árvore de Paulo, a árvore de Manoel,
a árvore de Ruth, a árvore de Roseta.

Seremos alegres e estaremos sempre a cantar.
Nossas panificadoras terão feixes de trigo enfeitando suas portas,
teremos uma fazenda e um Horto Florestal.
Plantaremos o mogno, o jacarandá,
o pau-ferro, o pau-brasil, a aroeira, o cedro.
Plantarei árvores para as gerações futuras.

Meus filhos plantarão o trigo e o milho, e serão padeiros.
Terão moinhos e serrarias e panificadoras.
Deixarei no mundo uma vasta descendência de homens
e mulheres, ligados profundamente
ao trabalho e à terra que os ensinarei a amar.

E eu morrerei tranqüilamente dentro de um campo de trigo ou
milharal, ouvindo ao longe o cântico alegre dos ceifeiros.
Eu voltarei...
A pedra do meu túmulo
será enfeitada de espigas de trigo
e cereais quebrados
minha oferta póstuma às formigas
que têm suas casinhas subterra
e aos pássaros cantores
que têm seus ninhos nas altas e floridas
frondes.

Eu voltarei...

sexta-feira, abril 09, 2010

O Asco da Imprensa

É impossível percorrer uma qualquer gazeta, seja de que dia for, ou de que mês, ou de que ano, sem aí encontrar, em cada linha, os sinais da perversidade humana mais espantosa, ao mesmo tempo que as presunções mais surpreendentes de probidade, de bondade, de caridade, a as afirmações mais descaradas, relativas ao progresso e à civilização.
Qualquer jornal, da primeira linha à última, não passa de um tecido de horrores. Guerras, crimes, roubos, impudicícias, torturas, crimes dos príncipes, crimes das nações, crimes dos particulares, uma embriaguez de atrocidade universal.
E é com este repugnante aperitivo que o homem civilizado acompanha a sua refeição de todas as manhãs. Tudo, neste mundo, transpira o crime: o jornal, a muralha e o rosto do homem.
Não compreendo que uma mão pura possa tocar num jornal sem uma convulsão de asco.

Charles Baudelaire, in Diário Íntimo

quinta-feira, abril 08, 2010










Sol



























Há pessoas que transformam o sol numa simples mancha amarela, mas há aquelas que fazem de uma simples mancha amarela o próprio sol.

quarta-feira, abril 07, 2010

Apegado a mim

Floco de lã de minha carne,
que em minha entranha eu teci,
floco de lã friorento,
dorme apegado a mim!

A perdiz dorme no trevo
escutando-o pulsar:
não te perturbem meus alentos,
dorme apegado a mim!

Ervazinha assustada
assombrada de viver,
não te soltes de meu peito:
dorme apegado a mim!

Eu que tudo o hei perdido
agora tremo de dormir.
Não escorregues de meu braço:
dorme apegado a mim!


(Tradução de Maria Teresa Almeida Pina)

terça-feira, abril 06, 2010

Medida radical















Foi o que se pode chamar, literalmente, “cortar o mal pela raiz”.

O conselho municipal da cidade de Darwen, Lancashire, Inglaterra, decidiu apoiar o corte de 6.000 árvores, espalhadas por 12 hectares ao longo de uma estrada muito movimentada e que tinham sido plantadas a seguir à Segunda Guerra Mundial, como forma de dissuadir os passantes a irem para o bosque praticar sexo. Parece que o zuca-truca diminuiu significativamente.

Como, por cá, temos a má ideia de copiar o que se faz na Inglaterra (o tempo da França já lá vai), qualquer dia vão-se ao pinhal de Leiria.

segunda-feira, abril 05, 2010

Sísifo

A noite cai no dia
cai em si
é dia

O dia sai da noite
sai de si
é noite


*poeta brasileiro
As palavras e as obras

“Quem receber um menino como este, em meu nome, é a mim que recebe. Mas, se alguém escandalizar um destes pequeninos que crêem em mim, seria preferível que lhe suspendessem do pescoço a mó de um moinho e o lançassem nas profundezas do mar. Ai do mundo, por causa dos escândalos! São inevitáveis, decerto, os escândalos; mas ai do homem por quem vem o escândalo!”
Jesus de Nazaré, in Mateus 18, 5:7

Não vale a pena vir com desculpas de sacristia, percentagens, comparações, seja o que for. Para os católicos os Evangelhos são claros e a passagem acima citada nem carece de qualquer exegética.

domingo, abril 04, 2010

Exaltação

Venha!
Venha uma pura alegria
Que não tenha
Nem a senha
Nem o dia!

Abra-se a porta da vida
Sem se perguntar quem é!
E cada qual que decida
Se quer a alma aquecida
No lume da nova fé.

Venha!
Venha um sol que ninguém tenha
No seu coração gelado!
Venha
Uma fogueira de lenha
De todo o tempo passado

Miguel Torga, in Libertação

sábado, abril 03, 2010

Sonho

Borboletas brancas
pairam
no útero da tarde

libertam
o Sonho oculto
no seio da Saudade

Dora Gago*,  in Planície de Memória

*poetisa algarvia
Páscoa Feliz!

sexta-feira, abril 02, 2010

Crónica milanesa

na catedral de Milão
às três da tarde sexta-feira santa
um Cristo estendido expira (de novo)
enquanto uma turista austríaca explica as técnicas da edificação
                                       [ gótica das catedrais da idade média
                 a um bando sonolento de turistas
um pombo passeia pela nave e pousa no vitral incendiado pela
                                                        [ luz horizontal da tarde
e o padre se exalta e amaldiçoa (de novo)
Júlio César Pôncio Pilatos Herodes e todos os soldados
                                            [ (romanos e austríacos)
                             amém

Vera Lúcia de Oliveira*, in  Tempo de Doer/Tempo di soffrire

*poetisa paulista-italiana

quinta-feira, abril 01, 2010

As avestruzes






















O bando que tomou de assalto o Vaticano de há três décadas para cá continua a enfiar a cabeça na areia e a tentar sacudir a água do capote, despendendo, nas palavras incisivas de uma renovada colunista do The New York Times, a Semana Santa na nada santa arte de manipular a informação, transformando a Quinta Feira Santa na Quinta Feira do Encobrimento e a Sexta Feira Santa na Sexta Feira do Culpa os Outros.

Em vez de fazer um mea culpa pelo encobrimento continuado da pedofilia existente nas fileiras do clero, continua a destilar barbaridades como a afirmação de que o aborto é mais grave do que um crime hediondo repudiado pela generalidade das culturas actuais - com a excepção de uns tantos pedófilos empedernidos - independentemente da orientação religiosa ou da ausência da mesma.

Perante a avassaladora acumulação de provas de que o Vaticano tinha conhecimento e nada fez para proteger as vítimas, punir canonicamente os criminosos e levá-los perante os tribunais criminais de cada país, dezenas ou mesmo centenas de milhões de católicos de boa vontade, entre os quais me incluo, esperam que o chefe da corja tome a única decisão possível: assuma a culpa, venda os bens que forem necessários para indemnizar as vítimas, puna os culpados – despadre-os, desbispe-os, descardealize-os –, entregue-os à justiça terrena e, depois de tudo isso feito, demita-se e entregue-se também. Para que a Semana Santa volte a ser merecedora desse nome e na madrugada do Domingo possamos cantar Aleluia!